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Esse blog tem por finalidade divulgar e valorizar as mais variadas e ricas formas de expressões artísticas, como artes visuais, cinema, dança, música, literatura, e sobretudo, teatro.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Teatro Crítica: A última gravação de Krapp e Ato sem palavras 1

Em duas peças curtas de Samuel Beckett, que tratam das (im) possibilidades do homem diante da vida, Sérgio Britto afirma seu infinito talento e sua inquestionável vocação para o teatro.




Louvação a um ator

Depois de “Fim de partida”, em 1970, sob direção de Amir Haddad, e “Quatro vezes Beckett", em 1985, sob o comando de Gerald Thomas, onde dividiu o palco com Rubens Corrêa e Ítalo Rossi; Sérgio Britto encara outro texto, ou melhor, outros textos de Samuel Beckett: “A última gravação de Krapp” e “Ato sem palavras 1”. As montagens têm direção de Isabel Cavalcanti e atualmente estão em cartaz no Teatro Sesc- Ginástico, no Rio. “A última gravação de Krapp” fala sobre um homem solitário, que registra num gravador a história de si mesmo. Enquanto, “Ato sem palavras 1” é um estudo breve sobre o vazio existencial. Os textos do dramaturgo irlandês, um dos maiores representantes do denominado teatro do absurdo, são profundos e trazem à tona sentimentos de devastação no homem condicionado às (im) possibilidades da vida. A maior prova disso é sua peça mais famosa em todo mundo “Esperando Godot”, de 1948.

Creio eu, que nenhum ator no Brasil, poderá se igualar a Sérgio Britto no que diz respeito ao verdadeiro significado da expressão “homem de teatro”. Ator, diretor, produtor, ensaísta, crítico, é, sobretudo, um eterno amante do teatro.

Em entrevistas, Sérgio Britto costuma dizer que não tem talento, mas apenas vocação para o teatro. Engano total. O talento e a vocação deste ator casam-se perfeitamente como em nenhum outro ator de ontem e de sempre. Aos 85 anos de idade e 63 de carreira, Sérgio Britto exibe toda sua maturidade artística nesses dois espetáculos.

Samuel Beckett e Sérgio Britto num encontro memorável

Cheguemos, finalmente, à encenação de “A última gravação de Krapp” e “Ato sem palavras 1”. A cenografia (Fernando Mello da Costa) acerta tanto na sobriedade da primeira quanto na criatividade da segunda, e os figurinos (Ney Madeira, sempre competente) são ótimos. A iluminação (Tomás Ribas) é caprichadíssima e faz linda contribuição a tudo que se vê no palco, e a trilha sonora (Tato Borda) tem o mesmo valor.

A direção de Isabel Cavalcanti é extremamente sensível e inteligente. Isabel age, com a sabedoria dos grandes diretores. Ela demonstra ter a perfeita noção e a total compreensão da grandeza dos dois materiais que tem em mãos, e cria uma direção sem invencionices, proporcionando entre Samuel Beckett e Sérgio Britto um encontro memorável.

Quanto à atuação de Sérgio Britto, marcada por gestos dosados e expressões faciais sutis, tudo que se disser de bom a respeito, brilhante, esplêndida, magnífica, notável, inesquecível... é pouco.

Quem, assim como eu, não assistiu ao espetáculo em sua primeira temporada no ano passado, não deve perder esta segunda chance. Para conhecer ou aprofundar-se na obra de Samuel Beckett e, principalmente, saber quem é, hoje, o maior ator do Brasil.

(Reinaldo Lace, em 14/03/2009)

Local: Teatro Sesc-Ginástico

Dias: de sexta a domingo

Horário: 19h30m.

Preço: R$ 20,00 (inteira), R$ 10,00 (meia) e R$ 5,00 (sócios do Sesc)

Até: 05/04/2009

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