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sexta-feira, 1 de outubro de 2010
PurArte convida
terça-feira, 14 de setembro de 2010
Dois anos sem Fernando Torres
Fernando Torres nasceu no dia 14 de novembro de 1927, em Guaçuí, no Espírito Santo. Começou a carreira de ator ainda jovem, no colégio onde estudou, já no Rio de Janeiro. Atuou na montagem do Teatro Universitário de "A dama da madrugada", ao lado de Nathália Timberg.
Abandonou a faculdade de medicina parta dedicar-se integralmente ao teatro, que se tornou uma de suas grandes paixões. Em 1950, na Rádio Mec conheceu Fernanda Montenegro, com quem se casaria dois anos depois. E com ela teria dois filhos também artistas, o cineasta Claudio Torres e a atriz Fernanda Torres. Ainda em 1952 participou das companhias teatrais de Eva Todor e de Maria Della Costa.
Sua estréia como diretor foi em 1958 quando fazia parte do mitológico Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), com a peça "Quartos separados". Um ano depois formou o Teatro dos Sete, com Gianni Ratto, Sérgio Britto, Ítalo Rossi e a mulher. A companhia durou pouco. Foram apenas seis anos. Mas entrou para a história do teatro do Brasil, com a montagem original de "O beijo no asfalto", em 1961, de Nelson Rodrigues, dirigida por Fernando Torres, que ganhou prêmio de diretor revelação.
Fernando até sua morte ontem (04/09/2008), aos 80 anos, de enfisema pulmonar, em seu apartamento, em Ipanema, viveu vinte e dois anos afastado dos palcos. Sua última peça foi"Fedra", em 1986, mas durante a temporada começou a apresentar problemas de saúde por meio de perda da memória, tendo que ler o texto em cena.
Lembro-me de Fernando Torres em duas ocasiões distintas. A primeira por sua brilhante atuação, como Alésio Lacerda na péssima novela "Laços de Família", de Manoel Carlos,em 2000. E a segunda quando fui ver sua filha na peça "A casa dos budas ditosos", em maio do ano passado (2008), no Citibank Hall. Ele estava sentado próximo à minha mesa, numa cadeira de rodas, visivelmente abatido, mas encantador.
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
Teatro Crítica - Doidas e santas
Desde o sucesso de público e crítica "Divã" (2005) estrelado por Lília Cabral que o teatro brasileiro vem se interessando cada vez mais por Martha Medeiros e seus textos. Quem acompanha a escritora gaúcha em sua coluna semanal no jornal O GLOBO reconhece em seus crônicas uma escrita simples e eficiente; direta e circunstancial na abordagem dos relacionamentos humanos e suas implicações. Martha não chega a ser profunda nas suas reflexões; o que não quer dizer que seja rasa. Ela apenas apresenta seus mais variados pontos de vista sobre a vida e seu cotidiano, deixando para o seu leitor a análise crítica das questões abordadas.
Fã confessa da escritora, a atriz Cissa Guimarães encomendou a Martha por e-mail um texto teatral para montar. Martha negou a encomenda, alegando não escrever para teatro. Mas, apresentou à atriz seu mais recente livro "Doidas e santas", que conta a história de uma psicanalista de meia-idade, que decide dar uma reviravolta em sua vida. Segundo Cissa Guimarães, era tudo o que ela queria e sentia necessidade de dizer no palco. Resta saber se era tudo o que o público queria ouvir e conhecer.
Uma coisa é um texto escrito para o teatro, outra coisa é um texto adaptado para o teatro Coube a Regiana Antonini a missão de transfornar "Doidas e santas" numa peça. E Regiana elaborou e desenvolveu a dramaturgia de "Doidas e santas", com mãos competentes, ressaltando o tom de comédia de costumes, valorizando os diálogos entre as personagens e dando-lhe levíssimos toques dramáticos.
Cissa Guimarães hesita entre a "doida" e a "santa"
A montagem em cartaz na pequena Sala Tônia Carrero do Teatro Leblon é eficiente e funcional. O cenário (Sérgio Marimba), com uma enorme estante branca ao fundo é mais que decorativo; sublinha a personalidade dos que moram naquele apartamento. Há ainda um sofá vermelho, onde quase toda a ação se desenrola. Os figurinos (Helena Araújo e Ernesto Piccolo) são corretos. Enquanto a luz (Jorginho de Carvalho) expõe a cena muito bem. E a trilha sonora (Rodrigo Pena), com Maria Bethânia cantando "O que tinha de ser", de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, revela as faces e fases da persongem principal.
O ponto fraco da montagem é, infelizmente, a direção de Ernesto Piccolo, que parece não encontrar um caminho seguro. O começo é mal definido e seu meio repetitivo. O final é melhor; mas de modo geral, a direção não avança.
O elenco se entrega com disposição ao texto e demonstra prazer no que está fazendo. Mas, isso não é o bastante para bons desempenhos. Cissa Gimarães está hesitante entre a "doida" e a "santa" do título. Giuseppe Oristanio tem desempenho bastante modesto, como o marido. E Josie Antello, que se divide entre a mãe, a filha e a irmã, beira o caricato na busca pelo riso fácil e empresta o mesmo tom de voz à mãe e à filha.
Enfim, para quem busca um teatro de comédia sem maiores pretensões, mas que também não chega a agredir a inteligência do espectador, "Doidas e santas" é garantia de bom divertimento, sem maiores reflexões.
(Reinaldo Lace, em 24/05/2010)
Local:Teatro Vannucci (Shopping da Gávea - Rua Marquês de São Vicente, 52, Gávea. Tel.: 2274-7246)
Dias e horários: Qui. a sáb., às 21h30min. Dom., às 20h
Ingresso: R$ 60, 00 (inteira) e R$ 30, 00 (meia), qui. e sex. R$ 70, 00 (inteira) e R$ 35, 00 (meia), dom. R$ 80, 00 (inteira) e R$ 40, 00 (meia), sáb.
Até: 31/07/2011
Teatro Crítica: A história de nós dois
Um casamento passado a limpo
Há mais de um ano que o Rio de Janeiro se agrada e se descontrai com um dos maiores sucessos da temporada teatral carioca recente. A peça em questão é "A história de nós dois", de Lícia Manzo, com direção de Ernesto Piccolo e protagonizada por Marcello Valle e Alexandra Ritcher em sintonia perfeita. Eleita pelos leitores de O GLOBO a melhor peça de 2009, "A história de nós dois", com seu assumido romantismo, marcado por sentimentos de saudosismo de um casal que passa por todas as pressupostas fases de um relacionamento matrimonial, enquadra-se perfeitamente nos padrões de uma chamada comédia romântica. Sua autora criou e elaborou um texto cheio de variedade e veracidade. Tudo recheado de graça, humor e leveza, que logo de cara conquista a simpatia do público que, certamente já viveu ou conhece alguém que já passou por aquilo.
A peça, que estreou no teatro de arena Candido Mendes, em Ipanema, o mesmo palco por onde estrearam outros grandes sucessos cômicos, como "Cócegas" (2001) e "Minha mãe é uma peça" (2006) tem uma boa encenação. A cenografia (Olívia Cohen) é - perdoe-me o lugar comum - simples, mas funcional. Os figurinos (Cao Albuquerque) revela o uso criativo de seu responsável. A iluminação (Maneco Quinderé) é muito apropriada. A direção de movimentos feita por Márcia Rubin, a melhor profissional do ramo no Brasil, só favorece o trabalho dos dois atores. A trilha sonora (Rodrigo Pena) é eficiente e estabelece bem o tempo e a ação decorrentes.
Marcello Vale e Alexandra Ritcher: sintonia perfeita
A direção de Ernesto Piccolo é muito competente. Como também é ator, Ernesto compreende bem as necessidades de um ator e os elementos que ele carece para a realização de um trabalho satisfatório. Suas intervenções revelam suas marcas enxutas e eficazes.
Marcello Vale e Alxandra Ritcher têm, ambos, boas atuações. Em cena, completam-se. Revelam sintonia perfeita e se casam harmoniosamente.
"A história de nós dois" pode ser conferida sem medo. É comédia leve, comunicativa e muito simpática; gostosa de ver e merecedora do seu sucesso.
(Reinaldo Lace, em 18/09/2009).
Local: Teatro Vannucci (Shopping da Gávea)
Dias e horários: qui. a sáb., às 21h30min. Dom., às 20h.
Ingresso: R$ 50,00 (inteira) e R$ 25,00 (meia), às qui. R$ 60,00 (inteira e $ 30,00 (meia), sex. e dom. R$ 70,00 (inteira) e R$ 35,00 (meia), aos sáb.
Até: 27/09/2010
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
Para lembrar João Caetano
Em 1842, João Caetano comprou a casa onde sua companhia havia estreado e a transformou em Teatro Santa Tereza (mais tarde, em 1900, a Câmara de Niterói mudaria o nome do teatro para João Caetano). O ator se tornou, em 1843, acionista majoritário do teatro da Praça Tiradentes, na cidade do Rio de Janeiro. Porém, somente, 87 anos depois, o teatro passou a ser chamado de João Caetano.
O esquecimento em relação a João Caetano - o Brasil é um país sem memória mesmo - é do mesmo tamanho da importância que ele teve para as artes cênicas do Brasil. Além de ser nome de dois teatros, o ator também é representado por uma estátua em frente ao teatro que leva seu nome na Praça Tiradentes. Neste ano, a estátua - a única dedicada a um ator de teatro nas ruas da cidade do Rio de Janeiro - completa 120 anos.
Um jornal carioca perguntou a dez artistas da área teatral, que ator ou atriz do Brasil, merece ganhar uma estátua em sua homenagem. Deu empate entreRubens Corrêa, Paulo Autran e Sérgio Britto pelos convidados do jornal. Mas, eu desempatei.
Inez Viana (atriz): "Dercy Gonçalves. Pelo conjunto da obra. É completa, no teatro, na TV e no cinema".
João Falcão (diretor): "Paulo Autran. Um dos grandes atores".
Paulo de Moraes (diretor): "Paulo Autran. Porque foi o maior ator que já vi no palco e que já dirigi".
Christiane Jatahy (diretora): "Sérgio Britto. O primeiro que me veio à mente. É um homem totalmente de teatro, que vê tudo e faz tudo".
Ana Teixeira (diretora): "Sérgio Britto. Um homem de teatro, de verdade".
Moacir Chaves (diretor): "Rubens Corrêa. Eu queria falar (o iluminador Aurelio de Simoni), totalmente generoso com o teatro, mas tem que ser um ator. Então, falaria Fernanda Montenegro, mas como acho que ela não vai padecer do esquecimento como o Rubens, voto nele".
Zezé Polessa (atriz: "Bibi Ferreira. Seria lindo a Bibi inaugurar uma estátua dela'.
Clarice Niskier (atriz): "Amir Haddad. Ele merecia ter uma estátua em frente à sua companhia, a 'Tá na Rua', na Lapa".
João Fonseca (diretor): "Rubens Corrêa. Votaria no Rubens e na Dulcina, mas tem que ter essa de escolha de Sofia na minha vida... Então, Rubens".
Reinaldo Lace (estudante de Teoria do Teatro): Sérgio Britto. Ele é o teatro vivo.
domingo, 15 de agosto de 2010
Teatro Crítica - Recordar é viver
Hélio Sussekind é autor de seis peças, e "Recordar é viver" é a primeira a ser encenada, revelando no teatro brasileiro um novo dramaturgo, cujas influências sofridas por Eugene O' Neall, Tennessee Willimas - ou só para nos determos no âmbito doméstico - Nelson Rodrigues e Jorge Andrade, são notórias. Mas essas influências estão apenas na indisfarçável predileção pelo tema familiar e seus conflitos. Pois, a escrita do novo autor nem de longe se aproxima da escrita dramatúrgica e do talento monumental dos autores citados acima. Hélio Sussekind constroi uma obra assumidamente realista, mas pouco evolutiva, e portanto, torna a essência do texto e sua ação sem grande desenvolvimento e sem possibilidades de soluções..
O autor criou uma peça que gira em torno de uma família, onde discussões e brigas deixam expostas feridas da alma nunca antes cicatrizadas. O universo dessa família é doentio e todos são dependentes uns dos outros para se sentirem vivos. O casal Alberto e Ana trocaram há muito a vida sexual e amorosa por embates que vão da acusação moral a agressões psicológicas. Os filhos João, Paula e Henrique são frutos nada sadios dessa união. Pena tudo isso ser mal definido e pouco desenvolvido.
A encenação revela um certo cuidado. O cenário (Lola Tolentino) é apenas correto. Assim como os figurinos, também assinados por Lola. A luz (Paulo César Medeiros, sempre ótimo) é funcional demais e dá a ênfase devida nas mudanças de lugares; o que é muito satisfatório.
Sérgio Britto e Suely Franco se salvam em elenco fraco
Os filhos Camilo Bevilaqua, Ana Jansen e José Roberto Jardim têm interpretações muito insatisfatórias. Camilo Bevilaqua, como João, o filho mais velho e racional que enriqueceu por esforço próprio e finge não sofrer com a predileção do pai pelo filho mais novo, ainda tenta, sem sucesso, esboçar alguma linha interpretativa. Enquanto Ana Jansen, como Paula, a filha dos casamentos fracassados; e José Roberto Jardim, como Henique, o filho sonhador e depressivo, tentam tirar leite de pedra. O que é impossível. Isabel Cavalcanti, como Bruna, a namorada de Henrique, sofre do mesmo mal que Ana e Zé Roberto.
Do sexteto de atores, os veteranos Sérgio Britto e Suely Franco são os únicos que se salvam. Eles têm os melhores desempenhos. Mas temos de reconhecer que ela ainda é melhor que ele, embora a sintonia entre os dois que formam o casal Alberto e Ana, não fique de maneira alguma, prejudicada.
(Reinaldo Lace, em 05/08/2010)
Local: Centro Cultural Banco do Brasil (Teatro II)
Dias: qua. a dom.
Ingresso: R$ 10,00 (inteira) e R$ 5,00 (meia)