Sobre o Blog

Esse blog tem por finalidade divulgar e valorizar as mais variadas e ricas formas de expressões artísticas, como artes visuais, cinema, dança, música, literatura, e sobretudo, teatro.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

PurArte convida

Josivan Silva

HOMENAGEM DO MÊS

ELIS REGINA: 30 ANOS DE SAUDADE: “...AGORA EU SOU UMA ESTRELA.”
(Porto Alegre - RS, 17/03/1945 – São Paulo - SP, 19/01/1982).

“Agora o braço não é mais o braço erguido num grito de gol.
Agora o braço é uma linha, um traço, um rastro espelhado e brilhante.
E todas as figuras são assim: desenhos de luz, agrupamento de pontos, de partículas, um quadro de impulsos, um processamento de sinais.
E assim – dizem – recontam a vida.
Agora retiram de mim a cobertura de carne, escorrem todo o sangue, afinam os ossos em fios luminosos – e aí estou, pelo salão, pelas casas, pelas cidades, parecida comigo.
Um rascunho.
Uma forma nebulosa, feita de luz e sombra.
Como uma estrela.
Agora eu sou uma estrela.”

(Texto: Fernando Faro)
Texto pedido e insistido por Elis Regina ao diretor do show, Fernando Faro, para ela recitar nas apresentações do seu novo show “Trem Azul”, em 1981.
(o último show de Elis)
(Direção do show: Fernando Faro)

Confesso que fiquei feliz, quando fui convidado pelo Reinaldo Lace para escrever este artigo sobre Elis Regina, neste mês de janeiro de 2012 em que se completam 30 anos da ausência desta mulher furacão inesquecível. O mais incrível é que 19 de janeiro de 2012 é o aniversário de 70 anos de Nara Leão (se estivesse viva) e de 30 anos da ausência de Elis Regina.
(Reinaldo, estamos em 2012, o ano de aniversário de 70 anos dos “Dinossauros de 42”: Nara Leão, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Jorge Ben Jor, Milton Nascimento e Paulinho da Viola. São ótimos artigos para o blog “PurArte”.)
Falar sobre Elis Regina para mim é um prazer inenarrável. Sou fã ardido e fervoroso desta pimentinha desde cedo. Desde antes de amar a música, como amo hoje.
Lembro-me que em 1995 o programa “Vídeo Show” da TV Globo, exibia uma série sobre os melhores momentos da TV brasileira, e num destes episódios vi pela primeira vez imagens antigas de 1965, de uma cantora incrível, cantando de um jeito muito impressionante e marcante: era Elis Regina cantando “Arrastão” no I Festival de Música Popular Brasileira da TV Excelsior em 1965. Eu realmente fiquei impressionado com aquela mulher, com maneira dela cantar, e fiquei me perguntando quem é ela? Pois até então eu nunca tinha visto ou ouvido falar em Elis.
Bem, como todos sabemos, entre os anos de 1995 a 1999, as gravadoras brasileiras nos empurravam de garganta abaixo dois estilos musicais que não me interessavam: Axé Music e Pagode. E ainda tinha o Funk carioca que era horrível naquela época. Enfim.... há gosto para tudo. Mas eu não me rendia àquelas músicas pobres (musicalmente falando) e de forte apelo comercial. Eu não suportava aquilo.
Meu segundo “contato” com Elis, foi em 1997, quando a TV Record estava comemorando seu aniversário de 45 anos, e exibia vários documentários com cenas de arquivo do seu passado glorioso, os anos de 1966 a 1969. Num destes episódios, o tema foi o III Festival de Música Popular Brasileira da TV Record de 1967. Onde Edu Lobo ganhou o Festival com sua música “Ponteio”, Gilberto Gil ficou em segundo lugar com “Domingo no Parque”, Chico Buarque ficou em terceiro com sua “Roda Viva” e Caetano Veloso em quarto com sua “Alegria Alegria”. Os momentos que mais me chamaram atenção foi Gilberto Gil e Os Mutantes tocando e cantando “Domingo no Parque” e de novo aquela (para mim desconhecida) Elis Regina, cantando “O Cantador”, onde ela recebera o prêmio de melhor intérprete do Festival. Pensei e sonhei: como ela canta maravilhosamente bem!
Em 1998, meu terceiro “contato” com a Pimentinha. Era domingo à noite, e o programa “Fantástico”, da TV Globo, estava reprisando o clipe da música “Alô, Alô Marciano” com Elis Regina, exibido no “Fantástico”, em 1980. Fiquei encantando com tanta técnica, graça e emoção daquela cantora. Foi amor à terceira vista!
Em 1998 comecei pesquisar mais sobre Elis e não achava aonde, pois naquela época internet era um “item” bastante seleto, caro e inacessível, como o celular era no início dos anos 1990. Mas eu queria saber mais sobre Elis, mas não tinha aonde buscar informações, mas eu já sabia que ela não estava mais entre nós, isso eu sabia, mas não sabia como explicar que eu sabia!
Descobri, que em minha casa, tinha um LP duplo da tal Elis Regina intitulado de “Elis Regina - Trem Azul” (gravado ao vivo em 1981). Que alegria e que frustração! Alegria por ter achado alguma “informação” da Elis e frustração porque em 1998 já não tínhamos mais aparelhos de som que tocasse LP. (Putz!) Vamos lá então; Li todas aquelas informações que estavam no LP, inclusive o texto acima, do diretor do show, onde Elis recitava o texto”. Tentei muito encontrar CDs da Elis nas lojas mas nenhuma delas tinha. (Putz 2!)
Até que no final de 1998, início de 1999, a TV Globo começa a apresentar a novela “Torre de Babel”, onde eu ouvia uma música que eu reconhecia aquela voz não sei de onde. Em meados de 1999, estava eu numa loja de CDs simplesmente olhando os lançamentos, quando dou de cara com um CD chamado “Elis Vive” (Gravação inédita realizada no Palácio do Anhembi – SP, em 1979). Nem pensei, comprei logo aquele CD e fui para casa “correndo” ouvi-lo. Que maravilha de voz, de canto, de técnica, de emoção... só a voz dela fazia com que eu imaginasse como ela estava cantando aquela música.
A partir daquele setembro de 1999, a arte da Elis, faz parte da minha vida, do meu dia-a-dia, do meu jeito de ser. Foi um grande achado aquele CD daquela mulher furacão. Pouco tempo depois daquele lançamento inédito (“Elis Vive” – 1998), as lojas transbordavam de CDs da carreira da Elis, e eu naturalmente comprava todos os que eu via. Hoje tenho todos os CDs dela. Naturalmente as informações que eu precisava e queria saber sobre Elis, estavam cada vez mais acessíveis!
Ainda em 1999, eu estava lendo um cartaz da revista “Veja” onde ela trazia as capas das revistas que mais venderam desde 1968 até 1998. Foi quando me deparei com uma capa da revista Veja, intitulada de “A morte de Elis Regina – A Tragédia da Cocaína”, edição de 27 de janeiro de 1982. (um dia antes de eu, Josivan Silva, nascer). Fui até a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro para ler aquela revista antiga. Saí de lá pensando em como nós seres humanos somos frágeis e falhos. Nada daquilo que eu li atentamente me fez menos fã de Elis. Aquilo para mim era apenas informação e nada mais. A arte que aquela mulher de origem humilde e simples trouxe para a música brasileira é infinitamente maior do que aquele triste incidente da manhã de janeiro de 1982.
O dia 19 de janeiro de 1982 significou para a música brasileira e para o Brasil, a perda de uma das suas maiores cantoras (se não a maior) de todos os tempos.
De Elis Regina, ficaram: sua voz; imortalizada em seu rico e interessantíssimo repertório; seus vídeos, hoje muito acessíveis através da internet, principalmente pelo site YouTube; e nós, fãs e compositores órfãos de uma voz poderosa que marcou para sempre uma geração inteira, dos anos 1960 e 1970.
Elis Regina agora é uma estrela que brilha por toda a eternidade no céu da música brasileira.

* pesquisador musical

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Teatro Crítica: Emilinha e Marlene - As Rainhas do Rádio: Parte da rica e encantadora História da Música Popular Brasileira é contada em musical nostálgico e envolvente.
Emilinha e Marlene: elas vivem! A MPB resiste!
Não é de hoje que o teatro brasileiro por meio de musicais biográficos resgata a vida e carreira de ídolos do passado da Música Popular Brasileira. Depois do grande sucesso do brilhante e inesquecível "Somos irmãs", sobre as irmãs Dircinha e Linda Batista; Isaurinha Garcia, Aracy de Almeida, Clara Nunes, Elis Regina, Nara Leão, Cartola e outros, já tiveram suas trajetórias pessoal e profissional contadas no palco em espetáculos bem ou mal sucedidos. A fórmula é sempre a mesma: conta-se a vida do homenageado por meio de uma narrativa dramática repleta de suas canções que vão emoldurando suas várias fases.
Thereza Falcão e Júlio Fischer, os autores, têm experiência comprovada no gênero. E unidos a Antonio de Bonis, o diretor, que também tem experiência comprovada no ramo, são alguns dos responsáveis por mostrar no bonito e sofisticado teatro da Maison de France a trajetória de duas eternas rainhas do rádio.
Emília Savana da Silva Borba e Victoria Bonaiutti de Martino, ou melhor, Emilinha Borba e Marlene, são as personagens centrais de "Emilinha e Marlene - As Rainhas do Rádio", um musical que vai ao encontro do público de maneira certeira, conduzindo-o por uma viagem nostálgica por um dos momentos mais marcantes e ricos da nossa música: a Era de Ouro do Rádio.
Vanessa Gerbelli e Solange Badim são os grandes trunfos do musical
A ação é contada por duas irmãs, Bia (Ângela Rebello) e Gegê (Rose Doaut). A primeira é fã de Emilinha, e a segunda, de Marlene. E dá-lhe discussão entre as duas para defender seu ídolo e apontar quem é "a maior". Ângela Rebello e Rose Douat conduzem muito bem seus papéis em linhas dissonantes. Mostram-se mais do que duas fãs. São duas devotas que cultuam seus ídolos assumida e deliberadamente.
A montagem abriga a ação com cuidado e beleza. A cenografia (Sergio Marimba) é muito funcional. A iluminação (Jorginho de Carvlho) marca devidamente toda ação decorrente, com dinamismo de cores e precisão. Enquanto o figurino (Rosa Magalhães) é luxo só. A direção musical (Marcelo Alonso Neves) é de extrema competência. Vale destacar a direção de movimento de Marcia Rubin. Ela cria gestos altamente característicos das personagens retratadas, que só favorecem os desempenhos dos atores e confirma tratar-se da melhor profissional do ramo no Brasil.
Além de Ângela Rebello e Rose Doaut completam o elenco de coadjuvantes Stella Maria Rodrigues, Cristiano Gualda, Luiz Nicolau, Ettore Zuim, Cilene Guedes, Mona Vilardo e Cédria Gottesmann, que se desdobram em papéis. Cilene Guedes e Luiz Nicolau destacam-se pela presença e caracterização, como Bibi Ferreira e Cauby Peixoto. Eles estão ótimos.
Mas as protagonistas Vanessa Gerbelli e Solange Badim, como Emilinha Borba e Marlene, respectivamente, são os grandes trunfos do musical. As atrizes estão brilhantíssimas. Vanessa arrebata pela delicadeza; enquanto Solange, pela força. São duas criações altamente distintas, porém, igualmente ricas. Sem elas, talvez, "Emilinha e Marlene - As Rainhas do Rádio" não fosse um musical tão envolente.


P.s.: Dedico este texto a Ebert de Souza, um jovem de apenas dezoito anos, morador da Zona Oeste do Rio, que ouve Emilinha, Marlene, Cauby Peixoto, Ângela Maria, Dalva de Oliveira, Francisco Alves, Orlando Silva, alicerces da MPB; e ainda é apaixonado por chorinho. Nem tudo está perdido.
(Reinaldo Lace, em 28/11/2011)
Local: Teatro Maison de France (Avenida Presidente Antonio Carlos, 58, Centro. Tel.: 2544-2533)
Dias e horários: Qui. e sex., às 19h30min. Sáb., às 20h30min. Dom., às 18h30min.
Ingresso: R$ 60,00 (inteira), R$ 30,00 (meia), às qui. e sex. R$ 80,00 (inteira), R$ 40, 00 (meia), sáb. e dom.
Até: 11/03/2012