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Esse blog tem por finalidade divulgar e valorizar as mais variadas e ricas formas de expressões artísticas, como artes visuais, cinema, dança, música, literatura, e sobretudo, teatro.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Teatro Crítica: "A propósito de Senhorita Júlia"

                                                    


Teatro Crítica - A propósito de Senhorita Júlia: Adaptação da obra de August Strindberg perde em essência e vigor
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                                       Mal sucedida transposição

É cada vez mais comum as adaptações dos clássicos da dramaturgia mundial. Será que os jovens amantes do bom teatro nunca terão a oportunidade, ou só raramente, de ver os clássicos em toda a sua essência desafiando a contemporaneidade? Qual seria o maior problema em montar os clássicos? Textos datados? Elencos numerosos em sua maioria? Falta de interesse por parte do grande público? Falta de patrocínio de órgãos públicos e/ou privados? Se um texto se torna clássico jamais ele é datado. Uma obra, seja ela qual for, só e chamada clássica quando ela ultrapassa os tempos e se mantém atual em qualquer época. Elencos numerosos são por vezes necessários. Em "Hamlet", o clássico dos clássicos do teatro universal, que personagem deixar de fora? Culpar o grande público é cair no erro do preconceito. E a falta de patrocínio de órgãos públicos e/ou privados é preciso ser revista com atenção e zelo. Sendo assim, o maior, entre outros erros, de "A propósito de Senhorita Júlia' é a transposição do original de uma rígida Suécia para o Brasil da Era Lula e suas "supostas" transformações sócio-econômicas. O que se vê diante de tal transposição é um equívoco, que resulta numa montagem mal sucedida, cujo erro maior cabe à direção. Falta à direção do cineasta Walter Lima Júnior clareza e objetividade, deixando algumas ações confusas, dificultando a compreensão do total da narrativa dramática, e gerando risadas na plateia em momentos que falam de dor e sofrimento. Pecado mortal.

A encenação, depois de uma temporada em fevereiro, no Teatro Nelson Rodrigues da Caixa Econômica Federal, reestreou no antigo Imperator, atual Centro Cultural João Nogueira (merecida homenagem ao grande sambista). O cenário (José Dias) ambienta uma cozinha, onde quase toda ação se dá. Funcional. Os figurinos (Gisele Froés) são mais que corretos; apropriados. A iluminação (Daniel Gálvan) oscila entre o expressionismo e o realismo e a trilha sonora (Walter Lima Jr, o diretor) passa surpreendentemente despercebida.


                                 Armanado Babaioff tem o melhor desempenho


Dos três atores do elenco Alessandra Negrini, Armando Babaioff e Dani Ornelas, ele é quem tem o melhor desempenho. Armanado já provou ser bom ator em "Gota d'água" (2007) e "O santo e a porca" (2008), ambas sob direção de João Fonseca. Babaioff realiza um trabalho coerente e sem exageros. Ao contário de sua mais constante parceira de cena Alessandra Negrini, que beira a esquzofrenia numa atuação viciosa de quem é produto da televisão. A sensualidade e a beleza da atriz não são suficientes para um bom rendimento no papel-título. Enquanto Dani Ornelas alterna bons e maus momentos realizando um trabalho irregular.

A ida ao teatro deve ser sempre recomedável, e é válida. Arte completa, como nenhuma outra, capaz de profundas reflexões, merece sempre o apreço do público. Pena que nem sempre o resultado é satisfatório.

                                                                                                    (Reinaldo Lace, em 15/0/2012))


Local: Centro Cultural João Nogueira - Imperator (Rua dias da Cruz, 170, Méier. Tel.: 21 . Rio de Janeiro RJ)
Dias: Sex e sáb, às 21h. Dom, às 19h30min.
Ingresso R$ 20, 00 (inteira) e R$ 10, 00 (meia)
Até: 19/08/2012

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Opinião: A gosto de Nelson


* PurArte
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1. "A mulher sem pecado" - Primeira peça escrita por Nelson Rodrigues, em 1941, foi montada pela primeira vez, em dezembro do ano seguinte, no Teatro Carlos Gomes - RJ. A montagem, com O Instituto João Aires de Minas Gerais é superior à montagem de 12 anos atrás, com José de Abreu e Luciana Braga nos papéis principais, por ocasião dos 20 anos da morte do autor. Apresentada dentro do projeto "A gosto de Nelson", em comemoração ao centenário de Nelson Rodrigues, a história que gira em torno do excessivo ciúme de um marido por sua mulher, cresceu na marcante interpretação de Paulo Rezende, como Olegário, o marido excessivamente ciumento, com apoio da trilha sonora e iluminação, de Luiz de Filippo e Wladimir Medeiros, respectivamente. Dias 01 e 02 de agosto, no Teatro Glauce Rocha.

2. "Vestido de noiva" - Maior clássico do Teatro Brasileiro; depois de uma encenação pavorosa, com direção de Caco Coelho e Viviane Pasmanter, como Madame Clecy, na Rotunda do Centro Cultural Banco do Brasil, em maio, os ótimos Os Satyros de São Paulo realizaram uma montagem criativa e interessante. Do elenco, só Helena Ignez destoava, como Madame Clecy. Dias 01 e 02 de agosto, no Teatro Dulcina.

3. "Álbum de família" - Um dos bons textos de Nelson Rodrigues foi desfavorecido por uma montagem esteticamente pobre. Poderia ter rendido mais, se a Anômade Cia de Teatro soubesse aproveitar melhor as possibilidades do texto. 08 e 09 de agosto, no Teatro Dulcina.

4. "Anjo negro" - Censurada por dois anos pela Ditadura Militar, a trama que gira em torno do até hoje atual e polêmico tema do racismo, por meio de um homem negro que renega a própria raça e se casa com uma mulher branca, teve no elenco de sua montagem original, em 1946, nomes como Itália Fausta, Maria Della Costa e Nicete Bruno. Dos mais fracos textos de Nelson Rodrigues, a Cia de Teatro 3 de Goiás driblou surpreendentemente as dificuldades todas apresentadas pelo texto e foi capaz de uma montagem clara, limpa e objetiva, favorecendo a compreensão do espectador sobre a trama. Mérito do diretor Altair de Souza. Montagem muito superior à montagem esquizofrênica apresentada, em março, no Teatro Dulcina, com Déo Garcez, como Ismael. 08 e 09 de agosto, no Teatro Glauce Rocha.

5. "Senhora dos afogados" - A trama mais complexa (por que não dizer confusa de Nelson Rodrigues), pela mistura de vários temas polêmicos, como assassinato, suicídio, prostituição, incesto, loucura e mistiscismo, ganhou, e muito, ao ser transformada em musical, com temas de Chico Buarque, Djavan e outros compositores brasileiros. O Núcleo Experimental de São Paulo fez jus ao seu nome, proporcionando ao espectador uma experiência marcante. Um trabalho caracterizado ao mesmo tempo pelo arrebatamento e a delicadeza, fazendo-nos ver quão doloroso, porém necessário talvez seja viver e seguir os impulsos dos sentimentos em detrimento da razão. A melhor montagem teatral que o Rio de Janeiro viu até agora.

*É convidado especial da FUNARTE (Fundação Nacional de Artes) para cobertura do evento "A gosto de Nelson"
**Não viu "Viúva, porém honesta", "Anti-Nelson Rodrigues" e "Dorotéia.