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Esse blog tem por finalidade divulgar e valorizar as mais variadas e ricas formas de expressões artísticas, como artes visuais, cinema, dança, música, literatura, e sobretudo, teatro.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Dois anos sem Fernando Torres

O "Primeiro Cavalheiro" do Teatro Brasileiro



Depois da morte de Gianfrancesco Guarnieri e Raul Cortez, em 2006, e de Paulo Autran, em 2007; o teatro brasileiro perde mais um grande ator, Fernando Torres. Sim, Fernando Torres era um grande ator brasileiro e não só o marido da Fernanda Montenegro. Embora, ultimamente, era mais lembrado como companheiro da grande dama do teatro brasileiro do que por sua trajetória profissional. Os motivos são tanto o brilho da mulher quanto o seu afastamento dos palcos. Mas quem o viu atuar em peças como "O interrogatório", de Peter Weiss, e "É...", de Millôr Fernandes, afirma que se tratava de um grande ator.

Fernando Torres nasceu no dia 14 de novembro de 1927, em Guaçuí, no Espírito Santo. Começou a carreira de ator ainda jovem, no colégio onde estudou, já no Rio de Janeiro. Atuou na montagem do Teatro Universitário de "A dama da madrugada", ao lado de Nathália Timberg.

Abandonou a faculdade de medicina parta dedicar-se integralmente ao teatro, que se tornou uma de suas grandes paixões. Em 1950, na Rádio Mec conheceu Fernanda Montenegro, com quem se casaria dois anos depois. E com ela teria dois filhos também artistas, o cineasta Claudio Torres e a atriz Fernanda Torres. Ainda em 1952 participou das companhias teatrais de Eva Todor e de Maria Della Costa.

Sua estréia como diretor foi em 1958 quando fazia parte do mitológico Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), com a peça "Quartos separados". Um ano depois formou o Teatro dos Sete, com Gianni Ratto, Sérgio Britto, Ítalo Rossi e a mulher. A companhia durou pouco. Foram apenas seis anos. Mas entrou para a história do teatro do Brasil, com a montagem original de "O beijo no asfalto", em 1961, de Nelson Rodrigues, dirigida por Fernando Torres, que ganhou prêmio de diretor revelação.

Fernando até sua morte ontem (04/09/2008), aos 80 anos, de enfisema pulmonar, em seu apartamento, em Ipanema, viveu vinte e dois anos afastado dos palcos. Sua última peça foi"Fedra", em 1986, mas durante a temporada começou a apresentar problemas de saúde por meio de perda da memória, tendo que ler o texto em cena.

Lembro-me de Fernando Torres em duas ocasiões distintas. A primeira por sua brilhante atuação, como Alésio Lacerda na péssima novela "Laços de Família", de Manoel Carlos,em 2000. E a segunda quando fui ver sua filha na peça "A casa dos budas ditosos", em maio do ano passado (2008), no Citibank Hall. Ele estava sentado próximo à minha mesa, numa cadeira de rodas, visivelmente abatido, mas encantador.

"Um marido consorte, mas com sorte mesmo, por ter me casado com ela. Isso para mim foi sempre muito bom. Na minha carreira, nunca tive pressa. Para muitos, eu deveria ter buscado mais, para me igualar ao brilho da Fernanda. Mas foi uma opção ficar atrás das câmeras, do palco, vendo-a representar, batendo palma e me emocionando." (Fernando Torres, um grande ator brasileiro).


(Reinaldo Lace, em 05/09/2008)