Sobre o Blog

Esse blog tem por finalidade divulgar e valorizar as mais variadas e ricas formas de expressões artísticas, como artes visuais, cinema, dança, música, literatura, e sobretudo, teatro.

quinta-feira, 5 de julho de 2012


GILBERTO GIL
“O REI DA BRINCADEIRA.....”
CHEGA AOS 70 ANOS.

2012 segue seu rumo proporcionando a todos nós, alegrias extremamente
marcantes e simbólicas.  Entender qual é a mágica que ronda 2012, é
simplesmente compreender que estamos vivendo momentos marcantes dos
nossos grandes mestres da Música Popular Brasileira.

Mas o que tem 2012?  Em 2002 em meio ao carnaval daquele ano, estava
eu folheando o jornal “O Globo” do Rio de Janeiro, quando me deparo
com o Segundo Caderno daquele jornal: o título da matéria era
mitologicamente impressionante: “Dinossauros de 42”  Abaixo deste
título de letras garrafais, estavam cinco caricaturas extremamente
originais: Gilberto Gil, Caetano Veloso, Milton Nascimento, Jorge Ben
Jor e Paulinho da Viola.  Não pude deixar de ler, pois tudo o que se
reportava a Milton Nascimento naquela época me interessava e me
prendia a atenção.  A matéria exaltava que aquele seria o ano em que
estes grandes mestres da música completariam 60 anos de idade!  (A
matéria não mencionava que se Nara Leão estivesse viva, também
completaria 60 anos. Mas eu estou aqui para relembrar. rsrsrsr...)

E o que falar de 2012?  Em 19 de janeiro deste ano, dois grandes e
poderosos nomes da nossa MPB foram relembrados!  Neste mesmo dia,
completavam 30 anos da inesperada morte de Elis Regina e 70 anos de
idade de Nara Leão se estivesse viva!  O céu está em festa!

E Gilberto Gil?  O que 2012 nos celebra sobre este grande
artista-músico-baiano-universal?  Simples: 70 anos de idade!  50 anos
de carreira profissional e 45 anos de idealização e participação ativa
no Movimento Tropicalista, ao lado de Caetano Veloso e Tom Zé.
No dia 26 de junho de 1942, na cidade de Salvador-BA, nascia Gilberto
Passos Gil Moreira.  Falar da grande importância de Gil para a cultura
e a música brasileira é extremamente visível, compreensível e
aceitável!
Você com certeza já cantou, assoviou ou se encantou com “Domingo no
Parque” (1967),  “Soy Loco Por Ti, América” (1967), “Aquele Abraço”
(1969), “Refazenda” (1975), “Realce” (1979), “Toda Menina Baiana”
(1979), “Palco” (1981), “Andar Com Fé” (1982)... e tantas outras que
tocam nossas almas e nossos sentimentos de maneira extremamente
particular e pessoal.

Você já imaginou se é possível a perfeita integração de harmonia do
som de um berimbau, com violinos e guitarras elétricas, misturados com
orquestra, e tudo ao vivo?  Agora imagine isso em 1967!   Pois é,
“Domingo no Parque”: uma de suas músicas mais impressionantes, e
considerada por muitos como uma das melhores músicas brasileiras de
todos os tempos!!!  Se 1967 parece ser tão distante do nosso tempo,
vale ressaltar que naquela época o mundo estava vivendo uma grande
revolução estética, cultural e modismos, e o Brasil via-se cada vez
mais aprofundado em uma ditadura militar que estava apenas no começo e
que perduraria por inacreditáveis vinte anos!
O Brasil dos anos 1960 vivia um momento único!  A Consolidação da
televisão como instrumento de lazer; a música brasileira ganhando
espaço e se modernizando com a Bossa Nova, a MPB superconservadora, a
Jovem Guarda, a Tropicália e a música internacional que batia a nossa
porta como: o Rock inglês do Beatles e dos Rolling Stones, o rock
americano...

E Gilberto Gil onde entra na história?  Justamente em 1967!
Após grande êxito de duas de suas músicas: “Louvação” e “Eu vim da
Bahia” apresentadas no programa “O Fino da Bossa” comandado por Elis
Regina e Jair Rodrigues de 1965 a 1967, Gil sentiu-se pronto e seguro
para dedicar-se a sua carreira de músico profissional!  Ele acertou?
Em cheio!
O grande-momento-abre-portas-para-o-sucesso de Gil, foi sem dúvida a
apresentação de sua música “Domingo no Parque” no III Festival de
Música Popular Brasileira da TV Record, que estendeu-se de setembro a
outubro de 1967, Por ele mesmo e o grupo de rock “Mutantes”.

Profundo amante da música brasileira, da bossa carioca, da música
regional nordestina e dos modismos e ritmos internacionais da época,
Gil aproveitou o grande momento da Era dos Festivais dos anos 1960
para apresentar no Festival da Recorde de 1967, sua obra-prima
“Domingo no Parque”, interpretada ao vivo pelo próprio Gil e com
grande participação do grupo de rock “Mutantes”, com Rita Lee nos
vocais e os irmãos Sérgio Dias e Arnaldo Batista.  “Domingo no Parque”
misturava ritmos e sonoridades nunca antes experimentadas: rock
britânico, música regional nordestina, orquesta sinfônica, guitarras
elétricas e o som e ritmo contagiante de um berimbau.  Quer conferir?
Recorra ao salve...salve YouTube e confira lá!

A partir deste festival, Gil, Caetano e Tom Zé idealizaram um grande
movimento musical, baseado em cultura de massa e música de maior
alcance comercial, misturados com a própria época de grandes
transformações e revoluções que era o mundo no final da década de
1960.  Nascia ali a Tropicália.  Movimento que transformou o cenário
artístico-cultural-musical do Brasil daquela época, ocasionando
inclusive, atritos com outros músicos e amigos, como Chico Buarque,
Elis Regina, Dori Caymmi , Geraldo Vandré e outros... já que após o
surgimento da Tropicália, instalava-se quase que naturalmente uma
barreira imaginária entre a “MPB” e a “Música Jovem”.  O que Gil e
Caetano realmente queriam é a aproximação destes dois estilos de
música, com uma mistura de irreverência e um certo deboche quanto ao
brutal momento político brasileiro.

Após inevitável choque com os militares que governavam o país após do
Golpe Militar no início de 1964, Gil e Caetano foram presos em
dezembro 1968 acusados de subversão contra o Regime Militar, onde
permaneceram até o início de 1969, quando são soltos e “convidados” a
saírem do Brasil, passando dois anos exilados em Londres – Inglaterra.
Continuam com suas carreiras musicais, abrindo e conquistando novos
adeptos a suas músicas, em terras estrangeiras.

De volta ao Brasil em 1972, Gil retoma sua grande carreira musical
nacional e inclusive com foco internacional que brilhantemente
perpetua até hoje, comprovando para nosso deleite, sua excepcional
qualidade como músico, em plena capacidade artística e criativa!  Gil
é inoxidável!
Apesar da expressiva modernidade que Gil expressa em sua música, é
visível a grande influência que Luiz Gonzaga teve em sua infância, que
o marcou definitivamente em sua trajetória musical.  Nascido em
Salvador, mas tendo passado sua infância em Ituaçu, no interior da
Bahia, Gil teve muito contato com a cultura local da cidade e
inevitavelmente recebe a grande influência musical do rei do baião
Luiz Gonzaga.

Gil em toda a sua carreira, nunca abriu mão dos ritmos regionais
nordestinos, como o baião, o xote, o xaxado, o forró e tantos outros.
É um grande atuante e incentivador da tradição das festas juninas e
julinas, conhecidas no Nordeste brasileiro como festas de São João.
Gil gravou alguns álbuns e dezenas de músicas com temáticas
nordestinas e festivas juninas, e a cada ano é um grande incentivador
e participador ativo das tradições festivas regionais nordestinas
brasileiras.

Gilberto Gil é um grande baiano-universal-transcendental, igualmente
comparado a Caetano Veloso, onde as carreias artísticas
inevitavelmente se cruzam pela longa estrada do tempo.

Josivan Silva é pesquisador musical.