Um Ariano Suassuna como deve ser
Primeiro veio Plauto e sua “A comédia das panelas” (escrita entre 190 a 195 a .C.). Depois veio Molière, com o Arpagão de “O avarento”, uma de suas mais bem sucedidas comédias, criticar a perda da perspectiva do homem diante do afeto e da vida por apego ao dinheiro. E Ariano Suassuna tomou para si a “Aulularia” de Plauto, modificou-a e transformou-a em “O santo e a porca”, com uma história de delicioso sabor nordestino marcada por grande comicidade, enorme habilidade cênica e imensa capacidade de comunicação com a plateia; todas características notórias do autor, maior defensor da cultura popular brasileira, e suas obras. Assim como Arpagão, o Euricão de “O santo e a porca” dá mais atenção e importância ao dinheiro do que à família e aos amigos, empobrecendo toda sua existência e adoecendo seu próprio raciocínio.
Montagem que dá gosto e prazer de ver
A atual montagem de Limite 151 Companhia Artística, agora em cartaz no Teatro Glauce Rocha, é acertadíssima e caprichadíssima. A cenografia ( Nello Marrese) usa da criatividade para fazer surgir no palco uma casa tipicamente nordestina, sem qualquer luxo aparente em virtude da avareza do dono. O figurino (Ney Madeira, sempre competente) é um verdadeiro achado. Ele veste as personagens devidamente. E isso já seria o bastante; mas ele o faz de forma precisa e preciosa. A iluminação (Rogério Witgen) é extremamente correta e funcional, e a trilha sonora (Wagner Campos) é totalmente harmoniosa com a ação e dá vontade de ouvi-la sem parar.
E tudo isso é orquestrado pelas mãos competentes de João Fonseca, que tem comprovada experiência no gênero comédia. Acompanho há algum tempo a carreira de João Fonseca e é prazeroso ver e constatar o amadurecimento e a evolução de um diretor que sabe como poucos dialogar de forma direta e circunstancial com o texto: “Tudo no timing”, “A ratoeira”, “Escravas do amor”, “Édipo Unplugged”, “Gota d`água”, “A falecida” e “Opereta carioca” são alguns exemplos do que falo.
O elenco, como um todo, tem bom rendimento. Dauia Assunção e Élcio Romar fazem devidas contribuições. Ele, um pouco mais contido como o coronel Eudoro Vicente; ela um pouco exagerada em algumas cenas como a solteirona Benona. Janaína Prado e Armando Babaioff têm, ambos, boas atuações. Ela como Margarida, a filha romântica e sacrificada de Euricão; ele como o apaixonado Dodô. Nilvan Santos faz um Pinhão, agregado de Euricão, cheio de vivacidade. Ewerton de Castro, que com este espetáculo comemorou quarenta anos de carreira, atesta porque é ótimo ator. Ele compreende bem as exterioridades e interioridades da personagem principal. E por isso cria no começo um Euricão patético, grotesco, ridículo e risível; mas real. Para no final mostrar comoventemente um Euricão diante da mais dolorosa condição humana: a solidão. Mas é forçoso reconhecer que é Gláucia Rodrigues quem domina a cena, como Caroba, a espertíssima empregada doméstica de Euricão. Ela conduz a ação com talento e humor enxutos, atraindo para si maior atenção da plateia.
Esta montagem alegre, colorida e contagiante de “O santo e a porca” nos faz ver como é melhor estar diante de uma comédia que nos faz rir por seu humor brilhante e inteligente do que por palavrões e piadas grosseiras.
P.S1.: Nesta atual temporada Élcio Romar entrou no lugar de Ewerton de Castro e foi substituído por Naldo Alves. E Marco Pigossi entrou no lugar de Armando Babaioff. Enquanto, Renata Sabino entrou no lugar de Dauia Assunção.
Local: Teatro Glauce Rocha (Avenida Rio Branco, 179, Centro. Tel.: 2220-0259)
Dias: Sex. a dom., às 19h.
Ingresso: R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (meia)
Até: 05/06/2011