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Esse blog tem por finalidade divulgar e valorizar as mais variadas e ricas formas de expressões artísticas, como artes visuais, cinema, dança, música, literatura, e sobretudo, teatro.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011





Teatro Crítica: Dona Flor e seus dois maridos: Adaptação de livro de Jorge Amado para o teatro resulta em montagem agradável e cativante.

Comunicação e divertimento

Jorge Amado (1912-2001) nasceu em Ferradas, hoje Itabuna, na Bahia. Concluiu o curso de Direito no Rio de Janeiro. Mas, logo abandonou a carreira de advogado para se dedicar à literatura, tornado-se um dos mais famosos e traduzidos escritores brasileiros por suas obras de forte conteúdo popular.

Em 1967, lança "Dona Flor e seus dois maridos", mais de vinte anos depois de "Terra dos sem-fim" (1942), constituindo uma exceção e sendo considerada uma obra-prima entre os romances da primeira fase do escritor. Para o teatro, Jorge Amado escreveu apenas uma peça "O amor de Castro Alves, reeditada como "O amor do soldado", em 1947.

Livro é livro. Peça é peça. E nem sempre a adaptação de um livro para o teatro resulta numa boa montagem. Principalmente, quando falta ao primeiro a ação dramática tão indispensável ao teatro.

Mas a história vivida por Dona Flor, simples professora de culinária e seus dois maridos, o primeiro um vadio de apelido Vadinho, e o segundo, um sério e pudico farmacêutico de nome Dr. Teodoro Madureira, não só mostrou seus elementos dramáticos no palco, como foi capaz, sobretudo, de criar uma atmosfera de comunicação e divertimento com a plateia. Mérito do jovem diretor Pedro Vasconcelos



Carol Castro surpreende

A encenação é sem qualquer aparente luxo ou austeridade. O cenário e os figurinos (Ronald Teixeira) são devidamente apropriados e evitam os possíveis excessos. A iluminação (Luciano Xavier) poderia ser menos escura favorecendo melhor algumas cenas e a própria visão do espectador. A direção musical (Bruno Marques ) é óbvia com canções da Bahia, mas não poderia ser diferente. Enquanto as coreografias (Roberta Queiroz) são adequadas.

A direção de Pedro Vasconcelos revela o começo da maturidade de um profissional, se comaparando a seus trabalhos anteriores. Ele supera sua pouca experiência via talento e cria um espetáculo alto astral e despojado. Trata-se de um trabalho onde o esforço para uma boa realização fica nítido aos olhos do espectador que ri e aplaude.

O elenco de coadjuvantes não compromete. Dos atores Luis Antonio (Dr. Giovanni), Candé Faria (Pelancchi Moulas e Maestro Agenor Gomes), Marcelo Gonçalves (Mirandão), Marco Bravo (Dorival Caymmi e Professor Epaminondas) e Fabio Nascimento (Pai Didi e Lourenço Mão de Vaca), só os dois últimos são menos satisfatótrios; mas sem criar desníveis.

O elenco feminino Lis Maia (Celeste) , Lis Schwabacher (Célia), Carla Cristina (Dionísia de Oxóssi), Lidiane Ribeiro (Carmem), Elvira Helena (Dona Rosilda) e Ana Paula Bouzas (Dona Norma, a Norminha) tem melhor rendimento. Sendo as dua últimas beirando um pouco o caricato. Ana Paula, por exemplo, cria exageros, mas se firma pela espontaneidade e irreverência exigidas pelo papel.

O trio de protagonistas está muito bem. Marcelo Faria cria um malandro obsceno cheio de vivacidade. Duda Ribeiro está devidamente contido, como o sujeito sossegado e tranquilo, dando o perfeito contraponto ao jeito descarado e sem vergonha de Vadinho. Carol Castro tem a ingrata tarefa de dar vida no palco à personagem imortalizada por Sônia Braga, uma das maiores estrelas do Brasil, no cinema, em filme homônimo, de 1976. Mas o que se vê no palco é uma atriz que aspira às verdades de Flor, que demonstra aplicação e revela disciplina. E é a disciplina elemento fundamentalíssimo para quem sonha ser uma das grandes atrizes. Não sabemos se Carol Castro chegará lá. Certo é que sua Flor é corpo e alma, vida e energia, variedade e vitalidade. Um tabalho surpreendentemente bom para uma atriz praticamente em começo de carreira.

Enfim, Pedro Vasconcelos se sai bem na tarefa de adaptar uma das obras literárias mais populares do país para o palco e tornar nosso saudoso "Amado" mais perto do seu povo.



(Reinaldo Lace, em 10/10/2011)

Local: Teatro Sérgio Cardoso (Rua Rui Barbosa, 153, Bela Vista. São Paulo - SP. Tel.: 0(xx) 11 3288-0136.

Dias e horários: Sex., 21h30min. Sáb., 19h. Dom., 18h.

Ingresso: Sexta R$ 20, 00(inteira) e R$ 10, 00 (meia). Sáb. e dom. R$ 30, 00(inteira) e R$ 15, 00.


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