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Esse blog tem por finalidade divulgar e valorizar as mais variadas e ricas formas de expressões artísticas, como artes visuais, cinema, dança, música, literatura, e sobretudo, teatro.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Teatro Crítica- Shirley Valentine: Betty Faria vive fase artisticamente especial em peça que é um despertar para vida



O tempo e Shirley Valentine


A solidão, condição mais dolorosa que um ser humano pode suportar. E a carência afetiva, capaz muitas vezes de nos levar por caminhos antes inimagináveis, parecem ter sido o ponto de partida, para que o dramaturgo inglês Willy Russel, escrevesse, em 1986, a história de Shirley Valentine. Mulher casada, mãe de dois filhos adultos; ela conversa com as paredes e reflete o passado.

Betty Faria domina a cena. A estrela está radiante, fulgurante, esplêndida. Seu olhar transborda, ora escuridão, ora luz; ora ofuscamento, ora brilho. Seu corpo é firme e delicado. Sua voz exata revela a alma de uma mulher e o que esta mulher poderia ter sido se a maré das circunstâncias não a tivesse varrido para as águas do equívoco. Suas escolhas, se é que teve o direito de escolher, pois como já disse o Bruxo do Cosme Velho, em "Dom Casmurro": "a vida é cheia de obrigações que a gente cumpre por mais vontade que as tenha de infringir deslavadamente", transformaram-se em enganos, decepções e frustrações.

O texto pela primeira vez montado no Brasil, em 1991, com Renata Sorrah no papel-título, trata-se de um monólogo, mas não um monólogo comum, pois a parede (o público) serve como interlocutor dessa esposa marcada pela solidão e dessa dona de casa que vive a descascar batatas.



Encenação primorosa. Betty Faria, luminosa


A encenação em cartaz no simpático e aconchegante Teatro I do Centro Cultural Banco do Brasil é primorosa. A adaptação de Euclydes Marinho e Guilherme Leme é exemplar no objetivo plenamente atingido de despir Shirley Valentine de suas caracerísticas propriamente europeias para torná-la uma Shyrley Valentine mais próxima de nossa cultura, tornado-a mais nossa e familiar, favorecendo ainda mais a identificação do público, com a encantadora personagem , que é quase uma tese das mulheres de meia idade oprimidas pela sociedade e infelizes no casamento, que nas décadas de 1980 e 1990; resolvem libertar-se. E Betty torna-se no palco mestra na desfesa dessa tese. Seu talento, mais conhecido do público de cinema e tv, expõe-se com tantas nuances que não há a menor chance que não se perceba a transformação, ou melhor, a evolução da personagem. Com este trabalho digníssimo, Guilherme Leme se firma como diretor teatral.

A cenografia (Aurora dos Campos) dialoga com a personagem, e é exata na sua concepção. Os figurinos (Tatiana Brescia) são corretíssimos. A iluminação (Wagner Freire) e a trilha sonora (Marcelo H) são pontos altíssimos da montagem. A luz soa como forte elemento condutor em algums momentos e salta aos olhos pela sua beleza, produzindo uma atmosfera de puro encantamento visual. Um espetáculo à parte! Enquanto, a trilha sonora (com bela música incidental), traz-nos a alma da personagem com suas reais evoluções, para perto de nós. Perfeitamente sublinhada e lindamente executada.

Enfim, "Shyrley Valentine", com uma luminosa Betty Faria, sob a direção sensível de Guilherrme Leme, proporciona ao espectador, uma viagem interior, para entender o tempo e suas fases, e sobretudo, as dores e as delícias de ser o que é.



Dedico este texto aos meus queridos amigos David do Nascimento Ribeiro, Anderson José, Mariana, Rafaela, Marcos, Walmyr, Lair, Letícia, Luciene, Monique, Priscila, Reginaldo, Maria da Glória, John, Marcelo, Celina Celia, Genildo, Luiz e sua mãe Zilah, Carmem Lúcia, Karina, Kátia, Elvis e Karolina.

(Reinaldo Lace, em 28/04/2011)


Local: Teatro Clara Nunes (Shopping da Gávea, 52, Gávea. Tel.: 2274-8245

Dias e horários: Terça e quarta, às 21h.

Ingresso: R$ 50,00 (inteira) e R$ 25,00 (meia)

Até: 27/07/2011


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